O conceito de cirurgia bariátrica emergiu durante a década de 1950 e por décadas acreditou-se que seus efeitos na perda de peso eram resultado de uma restrição mecânica a ingestão dos alimentos (com diminuição das dimensões do estômago) e da má-absorção de calorias secundária a desvios do intestino (que fazem com que os alimentos não passem por uma parte do intestino).
No entanto, com o avanço no conhecimento da fisiologia intestinal e das alterações metabólicas promovidas pela cirurgia ficou evidente que os efeitos benéficos da cirurgia não são resultados da restrição e da má-absorção, mas relacionadas a mudanças no padrão de liberação de hormônios intestinais e outros sinalizadores que controlam o mecanismos de fome e saciedade e o metabolismo energético.
A seguir discutiremos os principais mecanismos fisiológicos associados as cirurgias bariátricas:
Efeitos Metabólicos da Cirurgia
Como vimos (ver porque é tão difícil perder peso), um dos principais desafios para perder peso e manter o peso perdido com o tratamento clínico para a obesidade se dá pela oposição do próprio organismo à perda de peso, através do aumento do impulso para comer e da diminuição do gasto energético global.
Após a cirurgia bariátrica o organismo se comporta de forma diferente. Os mecanismos associados a perda de peso e resolução de comorbidades após a cirurgia são muito complexos e estão sendo progressivamente compreendidos, mas tentaremos resumi-los de forma mais simples.
Primeiro, as alterações da anatomia intestinal impostas pela cirurgia ocasionam um novo padrão de liberação dos sinalizadores periféricos de fome e saciedade e de controle do metabolismo. Apesar da perda substancial de peso, as concentrações do principal hormônio da fome, chamado Grelina, diminui. De forma análoga, sinalizadores de saciedade produzidos pelo intestino, como o GLP-1 e o PYY, são liberados de forma precoce e abundante. Assim, apesar da perda peso, apresentamos menos fome e saciedade precoce com pequenas porções de alimentos. Essas alterações hormonais também estão relacionadas a melhora de doenças associadas, como diabetes e colesterol alto. A magnitude dessas alterações depende do tipo de cirurgia realizado. Esse é um dos motivos pelos quais a escolha da cirurgia deve ser individualizada para cada perfil metabólico de cada paciente.
Somado a isso, após a cirurgia a forma com que o corpo controla o gasto energético também se modifica, favorecendo a perda de peso e manutenção do peso perdido. Quando perdemos peso com medidas clínicas, o nosso organismo reduz abruptamente nosso gasto energético afim de recuperarmos o peso perdido. Estudos clínicos sugerem que após a cirurgia essa tipo de adaptação energética se modifica e o organismo é capaz de manter o gasto energético mesmo com reduções expressivas do peso, o que contribui com o sucesso da cirurgia.